Às 6h Maria Aparecida despertou. Abriu os olhos, pegou o celular e não acreditou… Era cedo demais para levantar no sábado. Levantou-se, arrumou a cama e andou até a penteadeira. Abriu a gaveta. Suspirou aliviada. Lá estava a misteriosa caixa. Então era verdade! Havia achado a caixa próxima da portaria de um prédio comercial no centro. Ficava perto do consultório odontológico onde trabalhava. Na sexta-feira, o consultório ficava lotado! Ora atende ao telefone, ora atende os pedidos do Dr. Faustino. Uma correria sem fim! O dia passou urgente que nem tivera tempo para pensar o que a tal chave abriria. Então levantou cedo. Determinada, foi na cozinha da pensão fazer seu café. Estava com pressa, uma urgência de quem sabe que algo importante pode acontecer. Logo após o desjejum, foi apressada até a parada de ônibus. A ideia era vasculhar o local para descobrir algo. A linha 412 na direção da Consolação apontou na rua. Ela fez sinal com a mão. Acomodada na poltrona, pegou o papel que havia encontrado embaixo da almofada vermelha onde a chave de ouro estava assentada. No pequenino papel amarelo lia-se: Dandara. Será que é o nome de alguém? Poderia ser a pessoa que tem um cofre que abre com a chave? Mas, na novela havia visto que os cofres desse povo rico são com senha secreta e eletrônica. Não era boba! Do alto dos seus vinte anos sabia muito da vida. Ora pesquisava na internet, ora via na televisão. Mesmo que fosse de um cofre, a chave haveria de ser grande. Desceu na Consolação, dobrou à esquerda, andou cinco quadras e parou para observar. Lá estava o prédio comercial. A ideia era ótima. Na portaria alguém havia de conhecer a Dandara. Apertou o interfone. O porteiro perguntou qual sala ela procurava. Sem hesitar respondeu: – Procuro a Dandara! Ele perguntou: – Em qual sala ela trabalha? Ela disse que tinha que fazer uma entrega e que só tinha o nome. Ele falou para ela entrar. Então ela contou que havia achado uma caixa na frente do prédio com esse nome e queria entregar para a Dandara. Ele não sabia de ninguém com este nome. Mas, lembrou que no dia anterior haviam desocupado a sala 444. Agora estava para alugar na imobiliária Nostra Casa. De volta à pensão, Maria pesquisou na internet e deixou recado no contato de WhatsApp, dizendo que tinha interesse em conhecer a sala 444, que poderia agendar para a segunda-feira após às 18h30. Na segunda, ela estava em frente ao prédio quando o Sr. Wilson chegou e juntos entraram para ela conhecer a sala comercial. Ao abrir a porta, um perfume de incenso avançou no corredor, ela, de pronto, atentou para a cor violeta das paredes. Ela abriu a porta da sacada para observar a parte externa. Ele a deixou uns minutos para falar com o porteiro. Ela aproveitou para ver se encontrava alguma pista no banheiro, já que a proprietária do imóvel não tinha aquele nome. Ao sair do banheiro, um vento seguido de uma luminosidade entraram pela sacada. Uma figura entrou como um lampejo. Era uma mulher negra, nua, seu corpo era rijo, de leve musculatura torneada, luminosa e bela. Ela tinha grandes asas de plumagem dourada. Sobre a cabeça portava uma coroa de pedraria azul turquesa. Sorrindo para Maria, falou: – A caixa de Dandara é sua! Entregou-lhe uma caixa dourada e alçou voo por entre a grande muralha de pedras. O Sr. Wilson voltou, chamou-a sem êxito, ela estava de olhos vidrados no horizonte. Nada comentou com ele, poderia pensar que ela era uma louca. No caminho que a levava de volta para casa, abraçada à caixa de Dandara, pensou, algo novo está começando em minha vida.